Puros & Vinhos

sexta-feira, maio 05, 2006

OS MENINOS QUE BRINCAM COM AS UVAS


(Dirk Niepoort; jorge Moreira; rui Brito e Cunha; Francisco Olazabal; Joge Serôdio borges e sandra tavares da Silva)

Aqui deixo uma crónica tirada da revista" fora de série" do diário económico, que pode interessar a alguns de vocês. A entrevista foi feita por João Barbosa.

"Há talento à solta no Douro. Há também sabedoria e sangue novo. A amizade e a competição entre enólogos lembram os despiques dos surfistas cariocas. Com o rio ali à frente, chamam-se a si mesmos de “Douro Boys”... Dirk van der Niepoort, Francisco Olazabal, Jorge Moreira e Jorge Serôdio Borges são os nossos “meninos d’ouro”. Excepção aberta para a menina, Sandra Tavares da Silva, uma enóloga num mundo de homens.


A rapaziada é nova e nenhum deles é, verda­deiramente, rapazola. O mais velho é quem “manda”: Dirk van der Niepoort, um quarentão com aparência tão holandesa quanto o nome, mas de forte sotaque portuense. O mais novo elemento talvez não tivesse 30 anos quando começou a “surfar no vinho” com os outros “meni­nos do Douro”.
Os “Douro Boys” são simultaneamente amigos e colegas de profissão. O convívio é restrito aos seus laços, pertence-lhes, são deles os afectos. Juntam-se em jantares formais, de ocasião e informais, provam os vinhos uns dos outros, criticam-se, elo­giam-se, testam-se e divertem-se. Um dia, quando em reportagem na Quinta do Vale Meão, conversava com Francisco Olazabal (também enólogo na Quinta do Vallado) sobre grandes vinhos do Douro e referi o “Charme” de Dirk Niepoort. “Ah, gosta do “Charme”? Então venha aqui e prove lá este”. O trintão deu-me um tinto muito suave e aveludado, perfumado até inebriar:
“Diga-me, é ou não é o “Charme”? É ou não é o “Charme”? Já descobri o que o Dirk faz!”. Olazabal gastou algumas horas a pensar como o amigo ela­borava um dos seus topo de gama. “Desperdiçou” duas barricas no passatempo, fez duas experiênci­as e numa delas achou a solução. No jantar seguin­te terá levado uma garra­fas daquele “Charme” de imitação para impressio­nar o autor e os demais comensais.
Dirk Niepoort contara-me uns meses antes, quando o visitara em reportagem na Quinta de Nápoles, um episódio que poderá ter estado na origem deste e que espelha admiração mútua. Num jantar, os dois enólogos debruçaram-se na análise labora!, concluindo que o vinho do outro era melhor que o do próprio: Niepoort teimava que o “Vale Meão” era melhor do que o “Charme” e Olazabal cismava no inverso.

Quem são eles?

Jorge Serôdio Borges foi, por bastante tempo, o adjunto de Niepoort, até que chegou o momento em que quis voar sozinho. Hoje dirige a Quinta do Passadouro e é enólogo na Quinta de Maritávora, duas casas com boas referências. Não se sabe bem se os “meninos do rio Douro” formam uma espécie de “Clube do Bolinha”, em que menina não entra. Na verdade não há muitas mulheres a mandar nas uvas do Douro. No entanto, há uma que as põe todas em sentido e sabe bem o que quer delas. Se pertence ao clube não sei, mas tem talento para lá estar. Chama-se Sandra Tavares da Silva e é casada com Jorge Serôdio Borges, com quem cria o “Pintas”, um dos mais aplaudidos tintos, e o novís­simo branco “Guru”, muito bem recebido pela critica. Em termos profissionais, esta enóloga ex-modelo é responsável pela Quinta do Vale de D. Maria, outra casa produtora de especialidades.
Rui Brito e Cunha também integrou durante al­gum tempo uma estrutura empresarial até se deci­dir a correr por conta própria (JBC & ME, Quinta de São José). A elegância é o objectivo deste enólogo, que, contudo, não deixa de querer “meter o Douro dentro das garrafas”, porque essa é uma das vanta­gens que a velha Europa tem sobre os países produ­tores do Novo Mundo. A história e o carácter da re­gião têm de lá estar. Ulti­mamente lançou-se com o pai, Rui Brito e Cunha, ho­mem experimentado na administração de propriedades vinhateiras, no tu­rismo rural na Quinta São José, cujas casas de xisto foram recuperadas com gosto e onde se pode chegar a partir do rio para ver as uvas crescer.
Sobre Jorge Moreira sussurram os outros “surfis­tas vínicos” que se espera muito. É provavelmen­te, o elemento mais novo do grupo e quando o conheci ainda não tinha virado a casa dos trinta... talvez ainda não tenha. O que tinha era um rosto de miúdo crescido. Por agora o engenho desenvolve-se a tempo inteiro na Quinta de La Rosa e nas horas vagas ocupa-se com o “Poeira”. Este é um tinto teimoso que insiste em referências elogiosas por parte dos críticos.
O percurso de vida dos meninos do Douro está muito ligado ao rio. Mas nem todos. Sandra Tava­res da Silva, por exemplo, veio da moda e do Sul. Ex-modelo de profissão, o seu ‘habitat’ não era o Dou­ro. Mas hoje vive encantada com o vale dos socal­cos. E, por casamento, juntou-se a grupo daqueles que vêm de famílias tradicionais e quase nasceram à sombra das vinhas. Só para citar alguns, com árvores genealógicas com as raízes bem firmadas no solo xistoso do Douro, refira-se Jorge Serôdio Bor­ges, João Brito e Cunha, João Roseira e Dirk Niepo­ort. O rio, o vinho e a famí­lia estavam ali, desde que eram meninos, a chamar por eles.
A tradição das famílias tem peso e poder de atracção, mas alguns destes meninos sentiram o palpitar do gene responsável pelo empre­endorismo e lançaram-se cumulativamente em projectos pessoais.
João Roseira parece não conseguir estar quieto, sempre metido em aventuras. Não lhe basta a Quin­ta do Infantado, a propriedade de família e casa produtora de Vinho do Porto com boas referênci­as. Há uns anos meteu-e no projecto Bago de Tou­riga para fazer vinho de pasto e para ver nascer um projecto seu de raíz. O negócio, partilhado com Luís Soares Duarte, tem avançado e faz-se notável Sobretudo com o “Gouvyas”. Agora, de há três anos a esta parte, meteu-se na realização do Encontro do Dão e Douro (de 4 a 14 de Maio em Lisboa),porque considera que os vinhos das duas regiões ligam bem e têm a ganhar se forem mostrados juntos.
Esta coisa de pôr um pé no Dão é comum também a Dirk Niepoort, que faz com o produtor Álvaro de Castro o “Dado”, um vinho notável feito com uvas das duas regiões vinhateiras e, por isso, classifica­do apenas como “vinho de mesa” como se tratasse dum espécimen de pacote.
O clube, já se disse, é informal e inclui ainda gente corno Pedro Correia (Prats & Symington), Cristia­no vãn Zeller(Quinta do Vale de D. Maná), Francis­co Ferreira (Quinta do Vallado), Tomás Roquette, Miguel Roquette (arnbos da Quinta do Crasto), Rui Madeira, loão Matos (ambos da Casa Agrícola Re­boredo Madeira). Nas vizinhanças do “Bolinha”, Marta Cásanova (Brunheda) e Susana Esteban (Quinta do Crasto) são ditas outras jovens que an­dam a seduzir o mundo enófilo com as suas cria­ções durienses.

Onde surfam os Douro Boys

Dirk Niepoort nasceu com um apelido que é uma marca de Vinho do Porto, mas quando entrou no negócio inclinou-se mais para o Vinho do Douro. Desde o início quis experimentar, não se importan­do de andar em contra-ciclo com a tendência dos produtores, que não deixaram de duvidar e de o aconselhar a corrigir as obras. Os críticos e os consumidores aplaudiram-no e tomou-se numa referência respeitada e criadora de moda. “Não me preocupo com o mercado. Mas não me posso queixar, porque vendo tudo o que produzo”, contou-me. Aliás, de falta de comprador para os vinhos é coisa que estes rapazes do Douro não se podem queixar, mesmo que o mercado esteja saturado de produto­res e de marcas. A qualidade e a marca são razões para que isso aconteça, mas a quantidade dispo­nível também ajuda. Dizem vozes críticas do sector que só fazem “vinhos de garagem”, pois uma coisa e produzir 3.500 garrafas ou 15 mil, outra é andar nas centenas de milhares. É verda­de, mas vinhos afinados como são os dos “Douro Boys” mais vale designar por “vinhos de autor”. Porém, nem todos os seus vinhos têm produções reduzidas. O “Vale Meão”, por exemplo, tem uma tiragem superior às 30 mil garrafas anuais, mas anda esgotado na distribuição. Isto significa que em muitas garrafeiras já não existe, permitindo a especulação nas restantes e o escândalo nos res­taurantes. Quanto aos outros, os de micro - produções, estavam aqui mesmo agora e já se foram. E com uns preços!...
João Roseira atribui a moda e o entusiasmo face aos vinhos durienses à ‘movida’ dos “meninos” e assinala que entre, 1997/1998 e 2001 houve um fervilhar e fermentar de ideias muito benefico para a região. Um ponto de vista partilhado por outros dos membros do ‘gang’. Agora as coisas podem estar mais calmas, mas o saber adquirido não desaparece. E, acima de tudo, mantêm-se os convivios. Dir-se-ia que as novas grandes aven­turas estão a estagiar ou à espera de uma grande onda para surfar.."

20 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Gostei do que li e é sempre bom ficar a conhecer os "criadores" do Vale Meão, Quinta do Valado, do Charme, do Dado e etc. (... a qualidade da escrita é que não chega aos calcanhares dos autênticos papiros escritos pelo nosso presidente ! Que imagem.... :-)!!! )

4:39 da tarde  
Blogger PAULO SOUSA said...

Gostei do titulo"os meninos...

4:25 da tarde  
Blogger PAULO SOUSA said...

Também acho que brinquei com as uvas,ontem...

11:10 da manhã  
Blogger Presidente said...

Nada como deixar os MENINOS brincar e ficar felizes

12:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

se a menina do artigo não fosse casada eu também gostava de brincar com ela e deixava os meninos entreterem-se entre eles, com as uvas ou com as rolhas ou com os gargalos das garrrafas....enfim com aquilo que eles - os meninos - quisessem !!!!

1:06 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Já vi que alguns Senhores são atiradiços.

2:47 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

é mesmo só brincadeira! mas na realidade não se deve brincar com coisas sérias....

5:57 da tarde  
Blogger PAULO SOUSA said...

Anda ai passarinho...

2:39 da tarde  
Blogger Presidente said...

quem será o passarinho?

5:15 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

É verdade ! Quem será o passarinho????

12:55 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Qualquer dia eu apresento-me. Concordam?

1:57 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

No que me diz respeito quem sou eu para concordar ou não.... essa vontade de se apresentar publicamente tem de vir de dentro... tem de ser uma vontade indómita de se revelar ao blog...... ;-)

4:04 da tarde  
Blogger PAULO SOUSA said...

JÁ SAIU A BLUE WINE 2...

2:39 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Para quando um jantar ???

6:44 da tarde  
Blogger Presidente said...

Eu proponho um almoço para o dia 16 de Julho. onde iriamos degustar vários vinhos brancos nacionais e estrangeiros.
Uma ementa á base de peixe e mariscos.
o titulo do almoço seria:

" Prova Branca "

1:30 da tarde  
Blogger Presidente said...

Alguns vinhos que podiamos provar:

Esporão Private selection 2004 Alentejo
Redoma Reserva 2004 douro
Guru 2004 Douro
Gaja ross - bass langhe chardonnay 2000 Itália
concha Y toro - amélia chardonnay 2004 Chile
Domaine Laroche - CHABLIS 1ER CRU "Les vaudevez" 2003 França

Redoma Reserva 1996

1:50 da tarde  
Blogger PAULO SOUSA said...

POR MIM TUDO BEM...GOSTARIA DE DEIXAR AQUI NESTE ESPAÇO,UM ABRAÇO PARA O SR ANTÓNIO CHAPARRO PELA MAGNIFICA PROVA DE TOKAJI QUE NOS PROPORCIONOU ONTEM...VIVA A HUNGRIA...

2:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Apesar de estar na alçada da disciplina q faz lembrar outras...parece-me bem um almoço dia 16 até pq vamos estar a celebrar a conquista do titulo mundial.
Reforma no vinho a caminho, visitem:
http://www.negocios.pt/default.asp?CpContentId=278133

10:31 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

O que é feito da enóloga Sandra Tavares da Silva? Ultimamente não tenho ouvido falar nela...a última vez talvez tenha sido a propósito do anúncio de uma conhecida marca de cervejas. Sabem alguma coisa?
Obrigado.

12:03 da tarde  
Blogger Zé Maria said...

O artigo está muito bom só que o enólogo Rui Brito e Cunha não é Rui mas sim João.

Um abraço.

11:55 da tarde  

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