Tributo á Matilde e ao Martim III
Pela terceira vez resolvi convidar os meus amigos para estarem presentes num jantar de tributo á Matilde e ao Martim. Como sempre tento apresentar um leque de vinhos de excelência que adquiro durante um ano propositadamente para os apresentar neste evento.
Este jantar realizou-se no restaurante Club em Vila Franca de Xira, onde fomos presenteados por um esmerado jantar de degustação elaborado pelo Chef Henrique Mouro.
Antes do jantar brindamos á saúde de todos os presentes e famílias com o Champagne de eleição, Ruinart Banc des Blancs oferecido pelo Mário João, especialmente para este evento.
Para o inicio da refeição passámos á prova cega de brancos, desta vez resolvi decantar os vinhos brancos imediatamente antes de os servir. Houve alguns dos presentes que estranharam o porquê de decantar os vinhos brancos. A razão que dei foi que tinha lido algures, que vinhos que estagiaram em madeira e que se considerem encorpados podiam mostrar outras características se fossem decantados. A prova revelou-nos que essas premissas estavam correctas, os vinhos foram evoluindo com o tempo em copo e com o baixar da temperatura.
Quanto aos vinhos as considerações foram as seguintes:
Improvisació 2007 Br
(Região: Penedés/Espanha, Casta: Xarel.lo, Teor alcoólico: 13º, Productor: Cas Raspallet Viticultors, Preço:21€, Produção: 610 garrafas)
Bebemos a nº170 das 610 garrafas produzidas. Apresentou-se num amarelo com suaves tonalidades douradas. Nariz muito envolvente dada a profundidade e complexidade aromáticas, mas, sobretudo, pela originalidade de estilo. Um aroma vigoroso, sem ser pesado, a sugerir notas de fruta cristalizada, fruta cozida, chá, jasmim, menta e frutos secos. Uma verdadeira encruzilhada de sugestões aromáticas, envoltas pelas nunces tostadas, que tornam difícil, mas ao mesmo tempo estimulante, o papel do provador. Continua sedutor no palato: corpo mediano, evolução fresca a confirmar o primeiro nariz e um final com média persistência. Uma casta com potencialidades e que, acreditamos, permitirá oferecer aos consumidores vinhos de muito bom nível. Média: 16,30
Guru 2007 Br (Região: douro, Castas: Viosinho, Gouveio, Rabigato e Códega, Teor alcoólico:12,5º, Enólogos: Sandra Tavares e Jorge Serôdio Borges, Preço:25€)
Cor amarelo ouro claro. Basta levar o copo ao nariz pela primeira vez para logo a boca se abrir de espanto face a tamanha concentração, complexidade e intensidade. Devemos começar pela fruta, pela maçã madura, pela pêra generosa e pelos pormenores suaves do pêssego. Não nos podemos esquecer de mencionar as suaves notas melosas, o perfume do caramelo. Finalmente, não podemos passar ao lado do assombroso lado floral, um jardim na graça da primavera a iluminar e a alegrar as narinas.
Intenso, mineral, este branco cobre o palato de fruta branca, numa explosão mista de fruta e pedra capaz de devolver a vida a um morto! Estruturado, relativamente gordo, a acidez não dá um segundo de tréguas, mantendo-o sempre em forma, estaladiço e objectivo. É um vinho de enorme complexidade, rico, equilibrado e com um longo e poderoso final de boca que convence os mais cépticos. Média: 16,75
Maritávora Reserva 2007 Br (Região: Douro, Castas: Códega de larindo, Viosinho, rabigato, malvasia e outras, Teor alcoólico: 13º, Enólogo: Jorge serôdio Borges, Preço: 27€, Produção: + 2000 garrafas)
Apresenta-se na cor amarelo palha carregado, quase na transição para o amarelo ouro.
O aroma está bastante fresco, muito leve, gracioso e perfumado. Transmite a imagem de um campo coberto de flores. Mas logo de imediato somos despertados para a presença da casca de pêssego. As marcas de fumo não são imediatas, mas após alguns volteios mais violentos do copo, elas aparecem e permanecem por algum tempo, associados a tosta e um pouco de caramelo. Mas sem intensidade suficiente para mascarar os outros aromas delicados, apenas um complemento.
Está macio e sedoso, glicerinado, muito suave, com acidez diminuta mas suficiente para enquadrar o vinho. No conjunto temos um branco muito harmonioso e perfumado. Média: 16,15
Em resumo foi uma excelente prova de vinhos brancos, onde nenhum dos vinhos sobressaiu. Uma curiosidade foram os dois vinhos do Douro terem como enólogo Jorge Serôdio Borges, mas com perfis muito diferentes, no Guru nota-se a mão feminina de Sandra Tavares tanto no aroma (exuvberante) como na prova de boca (sedutor e elegante), este foi o melhor branco que provei do ano de 2007.
Passámos então á prova cega de tintos, que foram chegando pela seguinte ordem:
D'Aremberg Dead Arm 2005 TT
(região: McLaren valley/Austrália, Casta : syrah, Teor alcoólico: 14,5; Enólogo: Chester D'Aremberg Osborn, Preço: 40€)
Uma das curiosidades deste vinho é a sua proveniência, Dead Arm é o nome dado a uma doença causada na videira pelo fungo Eutypa Lata que gradualmente mata um dos galhos da planta. A parte sobrevivente, porém, recebe toda a dedicação e nutrientes e produz frutos altamente saborosos e concentrados. O vinho é produzido somente com uvas de plantas afectadas pela doença. Mostra aromas complexos de ginga, amora, especiarias, chocolate preto, tabaco, enfim uma panóplia de aromas impressionante. Antevê-se uma certa doçura no nariz, quase licor, com fruta muito madura mas com uma impressão de acidez revigorante. O que nesta fase não é nada discreta é a presença de madeira, fortíssima, intensa, indisfarçável (estágio de 21 meses em barricas nova de carvalho francês e americano)l.
Ameixa preta madura e pimenta moída de fresco, são as primeiras sensações transmitidas ao palato na prova de boca. Os taninos são do tipo macho, fortes, assertivos, intensos, quase aterradores. Com o arejamento, os taninos suavizam um pouco, a cor perde alguma da sua potência e o vinho mostra-se mais "educado". Apesar da ligeira sensação de doçura transmitida pela fruta muito madura, a acidez penetrante devolve-lhe elegância, frescura e equilíbrio. A madeira de carvalho, a fruta madura e a acidez pronunciada travam uma curiosa batalha pelo domínio do palato num final de boca impressionante e extraordinariamente prolongado.Média:17,35
El Nido 2006 TT ( Região: Jumilla/Espanha, Castas: 70%cabernet Sauvignon e 30% Monastrell, Teor alcoólico: 15,5º; Enólogo: Cris Ringland (Australiano), Preço: 100€)
De cair para o lado! Enorme na concentração, completamente opaco, com tons violáceos no bordo. O "primeiro nariz" remete-nos para um vinho do novo mundo talvez um syrah australiano, estava enganado. Isto só comprova que não percebo nada disto. A evolução no copo aumenta a versatilidade do conjunto e as notas de fruto preto e chocolate surgem entrosadas com nuances balsâmicas e especiadas. Pura e simplesmente divinal na boca: cheio, muito encorpado, pastoso, com uma robustez tânica para 20 anos e um final absolutamente estonteante. Está lá tudo: a potência e o fulgor, o equilíbrio e a harmonia, num estilo raro e absolutamente esmagador. Perfeito. Como se o vinho servisse de anestésico ... e plenitude fosse a palavra de ordem. Renda-se ao que de melhor este mundo tem para dar... em Cabernet, ou noutra coisa qualquer! E, não se admire se, ao beber isto, julgar que entrou na "twilight zone". Entrou mesmo. Pergunto-me quantas vezes na vida voltarei a sentir as mesmas sensações ao provar um vinho? Inesquecível... e de um campeonato completamente à parte! Média:18,15
Abandonado 2005 TT (Região: Douro; Castas: Lote de castas típicas do Douro; Teor alcoólico:14,5; Enólogo: Domingos Alves de Sousa, Preço: 65€)
Este vinho foi considerado pelo critico Parker como o melhor vinho português provado neste na, tendo obtido 94 Pts. E todos sabem que quando este senhor põe um selo de qualidade em qualquer vinho o preço dispara, por isso se o vinho chegou ao mercado a cerca de 60€ depressa chegará aos 100€.
Vamos mas é ao que interessa, o vinho. Apresenta-se de cor opaca, quase impenetrável, esconde-se um vinho encantador, um tinto que desvenda notas suaves de cereja, ginga e ameixa, para logo se abalançar para os florais. Todo ele é suavidade e delicadeza, desde os taninos polidos mas encorpados, passando pela acidez muito bem integrada, terminando na estrutura pujante mas harmoniosa. O trinómio corpo/taninos/acidez aliado à fruta, oferece-nos um vinho carregado de personalidade. Média: 17.20
Avó Sabica 2004 TT (Região: Alentejo; castas: Trincadeira, Aragonês, Cabernet sauvignon e Alicante bouchet; Teor Alcólico: 15º, Produtor: Casa Agricola Santana Ramalho, Preço:48€)
Apresenta-se num lindo robe violeta escuro. A pureza e sensualidade da fruta alentejana estão dentro do copo, vincadas pela personalidade da ameixa e casca de laranja. As especiarias surgem por detrás deixando rasto a baunilha e noz moscada, tudo avivado por uma frescura notável, equilibrada. Na boca mostra raça, estrutura, equilíbrio respeitável para quem tem 15º de corpo. Termina longo, fresco, vivo, com persistência de sabores a madeira, fruta e especiarias. Os taninos polidos, domesticados, cooperam com a acidez dando profundidade ao corpo no final de boca. Um conjunto imediato, apetecível. Média:17,65
Com a sobremesa bebemos um moscatel de Alejandria da região de Málaga, que não deixou ninguém indiferente.
Jorge Ordoñes & Co Nº2 Victória 2005 Blanco naturalmente Dulce
(Região: Malaga; Casta: Moscatel de Alejandria; Teor Alcoólico: 13º; Preço:31€; Enólogo: Alois Kracher)
Victória vem da selecção de vinhas velhas situadas no ponto mais altos do município de Almárchar. A colheita é feita manualmente em meados de Agosto. A fermentação é feita na sua totalidade em depósitos de aço inóxidavel, como é característico nestes vinhos. O seu álcool vem exclusivamente da fermentação da uva. Não nos podemos esquecer que é elaborado pelo senhor dos senhores dos vinhos doces austríacos Kracher.
Se isto é o segmento baixo, resta-nos apenas suspirar e sonhar com a gama alta (Essência), que essa, não deve ser para meros mortais! A primeira "bofetada" que nos atinge, é a dimensão da fruta exótica, de toda a luxúria que representa. Fruta muito madura, quase decadente, fruta que se situa num ponto intermédio entre o barroco e o surrealismo. Logo em seguida surgem em catadupla o mel, a compota, o pêssego, alperce, o melão, os aromas.
A boca apenas confirma o que já esperávamos, uma suave doçura apoiada num acidez intensa, o pêssego a dominar e o álcool a nem se notar. Não é o vinho mais complexo do mundo na boca, mas é um vinho que gera muitas horas de prazer. Média:18,83
No final fumamos os Puros gentilmente disponibilizados pelo David e pelo Mário Duarte, que tiveram uma excelente maridagem com o Rum Pampero aniversário.
Quanto ao que eu fumei o Montecristo Sublime, veio a confirmar todas as excelentes considerações que eu já fiz referência neste blog, construção perfeita, capa oleosa, bom tiro e excelente combustão. Nota:17
Uma palavra para o excelente repasto proporcionado pelo Chef Henrique Mouro, que tentou e conseguiu conjugar o perfil dos vinhos com a gastronomia. Mais tarde o critico gastronómico o sr António amaro fará aqui a sua exposição sobre a os elementos gastronómicos degustados neste jantar.
Muito obrigado á Angela pela seu profissionalismo e dedicação na arte de bem servir, todos sabem como é difícil este trabalho devido á quantidade de copos envolvido.
Obrigado a todos pela vossa presença.
5 Comments:
Boa tarde Pressidente
Grande cronica
Grande jantar
Grandes Vinhos
Grande Puro
e Grandes companheiros.
Tal como tinha imaginado na minha anterior cronica, o Private Selection 2004 passou a ser o quinto melhor tinto de 2009.
Abraços
Sobre o resto
Estou apenas a aguardar o nome oficial dos pratos para te enviar a cronica do jantar.
Sobre os vinhos, depois de ver as pontuações médias, fiquei surpreendido por ver médias (de quase todos os vinhos) que esperava mais altas, mas uma prova é mesmo assim...
Abraços
Sublime jantar,o melhor que já estive...Grande trabalho do Chef Henrique Mouro,muito obrigado pela grande aventura gastronómica que mae proporcionou,fiquei rendido á sua arte.
Grandes vinhos com destaque para o El Nido e grande surpresa o Moscatel,parece que o produtor já não consegue entregar todas as encomendas...
O remate não podia ser melhor...Sublime Montecristo Edição Especial.
Foi um prazer estar com os amigos e obrigado Luis...
Um abraço especial para o Sr Mario Duarte que nos honrou com a sua presença e sabedoria.
Pareceu-me o tipo de pessoa, que podemos falar a noite inteira e não nos cansamos...e quando falamos de coisas que gostamos ainda melhor.
Muito Obrigado
Malé ja pedi ao Chef Henrique o nome dos pratos, quando os tiver envio-te por mail.
Deixo aqui as preferências dos 12 amigos na prova de brancos e tintos:
Luis: Guru, el Nido
Male: Improvisació e Guru; El Nido
Mario João:Improvisació; El Nido
Sousa:Improvisació; El Nido
Psi: Improvisació; El Nido
Mané:Guru; D'Aremberg
Lilaia:Brancos c/mesma nota;D'Arembreg
David: Guru; El Nido e Avó Sabica
Mário Duarte: Guru; Avó Sabica
Rogério: Improvisació e Guru; D'aremberg, El Nido e Abandonado
Chaparro: Guru; El Nido e avó Sabica
Serra: Maritavora; El Nido
Nos brancos houve mais disparidade nas notas .
Grande jantar, grandes vinhos e grande convivio.
para o ano haverá mais.
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