Puros & Vinhos

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Uma volta de "Carrocel" com uns "Pintas" junto á "Torre do Esporão"


Dia 7/12/2006 realizou-se mais um encontro de Natal do “Gang” Puros & Vinhos, que teve lugar no restaurante “Aquárius” situado no hotel Lezíria Parque Hotel em Vila Franca de Xira. Os “Pintas” presentes á mesa foram os seguintes: Luis Diniz ( El Pipi); Paulo Sousa ( El Gordo ); Mário joão (Pequeno João); António Matos (Divino Calvo); Nuno Santos ( Pingo ); António Chaparro (Zé do Esporão); Nuno fernandes ( Napa valley); Mané (Chateaux-neuf-du-Pape); Paulo Serra ( Pintarolas); Nuno ( Alternativa); Nuno Anjos (Friend); Pita (Muletini); Luis Pedro (Blanc des Blancs); Malé ( Dom Robalo ).

Em termos de pingas, o primeiro a apresentar-se foi o excelentíssimo Dom Ruinart 1996, qual aristocrata todo ele é finesse e elegância, bolha muito fina, uma mousse delicada e abundante, com notas a flores brancas, brioches frescos da manhã, na boca tem um excelente ataque cheio de frutas exóticas, no qual dominam as notas minerais. Termina fresco a beneficiar de uma bela persistência retro nasal. Nota: 18,00

Depois chegou um Senhor chamado Trimbach Cuvée Fréderic Emille 1995 Magnum, um ano mais velho do que o anterior convidado. Não vamos esconder que estávamos um bocado cépticos em relação a este senhor devido á sua idade, sim 11 anos num vinho branco português, salvo raras excepções e teríamos que passar ao vinho seguinte. Mas ele apresentou-se em grande forma, este Riesling alsaciano apresenta uma linda cor dourada a cair para o esverdeado, muito límpida e brilhante.
As notas aromáticas são dominadas pelo toque mineral, muito granito, pedra, e algum petróleo. Existem também aromas florais e aromas subtis a avelã. As notas citrinas surgem em evidência, bem como sugestões de pêra, ajudando a criar um vinho extraordinariamente complexo, equilibrado, denso, cheio de nuances. É um Riesling complexo e puro.
A boca é verdadeiramente elegante revelando sucessivas camadas, poderosas e maciças, de mineral, lima, muita pedra, tudo isto formando um conjunto complexo, sensual, mágico. É um vinho concentrado, elegante, harmonioso, misterioso, apresentando um corpo médio/cheio e um fim de boca muito longo! Notável meu senhor!Nota:16,00

Quanto á prova cega realizada, tínhamos as expectativas bastante altas, e elas não foram defraudadas. Foi uma grande prova cega, cujo o resultado é o que a seguir descrevo:

1º Torre do Esporão 2004 Nota: 18,32
2º Pintas 2003 Nota: 17,82
3º Carrocel 2003 Nota: 16,50

Torre do esporão 2004- tem uma bela apresentação, uma garrafa ultra pesada, estilizada e vestida com muita sobriedade, uma imagem que transmite respeito, tradição e distinção. Será que o conteúdo iguala os atributos da embalagem? Vejamos.
Comecemos pela cor vermelho rubi brilhante, grande concentração e menisco violáceo. Aromas amplos, "espaçosos", envolventes, uma combinação sóbria e bem gerida de fruta, tosta e aromas secundários. Falemos então da tosta e dos austeros aromas fumados, da elegante presença da cereja, ameixa e groselha, do chocolate preto, do couro e das notas de curtumes, da distinta presença mineral e das suaves notas adocicadas que marcam o final. Falta só referir as agradáveis sugestões florais, rosas, violetas e cravos, um conjunto deveras atraente e onde o álcool não marca presença.
Boca cheia, poderosa, consegue conjugar elegância com austeridade e energia. Taninos sólidos mas bem acomodados, estrutura mediana que não impressiona pela potência mas sim pelo charme. Acidez viva, ainda precisa de mais tempo para ganhar amplitude na fruta e integrar a madeira e acidez na perfeição. Final médio/longo, suave e intenso, temos um vinho elegante que apetece beber... e guardar!


Pintas 2003 Magnum- Qualidades tem ele, mais que suficientes, para alcançar esse estatuto. Começando logo pelo impacto visual, pela cor púrpura retinta, quase preta, intensa, com bordos violetas muito escuros. É logo um começo impressionante.
O aroma é denso, espesso, carregado, pastoso, sugerindo de imediato um vinho profundo e misterioso. Sente-se muito ligeiramente a madeira, mas sem sobressaltos. Maduro, imensamente frutado, com fruta rica, carnosa, complexa, sempre equilibrada e com alguma tensão. O cacau não sofre de timidez e sente-se bem no aroma, ajudando a tornar este Pintas num vinho com muita pinta.
O ataque na boca é excelente, poderoso mas contido, contundente mas preciso. Belíssima acidez, tem um recorte, uma moldura mineral, muito elegante, "fresca" e intensa. Taninos musculados, maciços, mas superiormente integrados na estrutura do vinho. Está gordo, carnudo, é está cheio de potencial para ainda crescer. É caso para dizer que este Pintas é um Ás do Douro.
Impressionante a forma como são anulados os 14% de álcool. Aromas ainda presos a aconselhar paciência, fruto preto, a tosta da barrica. Com a permanência no copo surgem os apontamentos de verniz, os toques resinosos, sempre com a fruta a querer despontar em pano de fundo. Finalmente, detêm-se em agradáveis notas de torrefacção. Grande estrutura na boca, cheio, fresco, macio mas cheio de garra, excelente acidez, seco na evolução a conter-lhe a doçura e um final muito longo a deixar perceber as notas de café. Que "ganda" pinta.

Carrocel 2003 – Tem uma entrada de amor á primeira vista, nariz doce, com predominância de aromas florais, e banana, fazendo prever o peso da casta Touriga Nacional. Os frutos silvestres são muito frescos, remetendo o sentido do olfacto para aromas a bosque. A madeira surge por detrás, com um leve aroma a chocolate de leite, completando um conjunto de nível superior, fino e delicado. Na boca entra suave, sem agressividade. Os sabores estão fechados, dando a sensação de estarmos perante um perfil simples e directo. Tudo parece em harmonia à espera que certos sabores se revelem de forma mais intensa. No final de boca moderado, de complexidade média, os taninos da madeira marcam um pouco o perfil com sabores fumados de estrutura média. É, no entanto, um excelente acompanhamento gastronómico. Gostei muito da viagem deste Carrocel, nem dei pelo tempo passar, de tanto prazer que ela me deu.

Quanto ao repasto, estava simplesmente divinal, não ficando nada atrás das Pingas. O Catulo de escabeche em salteado de cenoura e requeijão c/batata doce ligou muito bem com o Dom Ruinart, parecia o Fred Astaire e Ginger Rogers na dança “Waltz in Swing Time”, simplesmente inesquecivel e arrebatador.

A Mozarella frito c/molho de laranja e abóbora c/uvas e rocula salteada, este excelente “morfe” ligou muito bem com o Trimbach, parecendo a eterna “love story” protagonizado por Humphrey Bogart e Ingrid Bergamn no filme “Casablanca”

A Lasagna de perdiz e espinafres c/molho de tomate e alecrim estava estrondoso e ligou muito bem com os vinhos apresentados na prova cega, “ What a Glorious Felling” foi o mesmo que sentiram Genne Kelly, Donald O’Connor e Debbie Reynolds quando protagonizaram o filme “Singing in the Rain”.

Mais uma vez dou os parabéns ao Cheff Valter pela excelência do repasto por ele proporcionado.Estendendo os agradecimentos a lidia Conde e Nuno do Hotel Leziria Park em Vila Franca de Xira. Não fossem o seu empenho e a sua total disponibilidade e nada disto teria sido possível. Revelaram enorme profissionalismo e desempenharam exemplarmente o papel de anfitriões. A eles se deve toda a estrutura logística montada em redor deste evento: salas, e toda a panóplia de requisitos indispensáveis para prova... de cair para o lado!
Uma refeição esmerada, uma gastronomia de elevado padrão qualitativo e concepções culinárias com elevado sentido estético, um grande obrigado.
BOAS FESTAS

Ps. Devido a um problemas na máquina fotográfica não foi possivel recolher as fotografias (o meu filho teve o cuidado de apagar ) dos pratos apresentados, tendo sido substituídos pelas fotografias dos filmes que aqui foram feitas referências.

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