Resolvi oferecer a alguns amigos um jantar diferente, procurei encontrar vinhos que se tivessem revelado no ano de 2007.
Com a ajuda dos guias e revistas da especialidade reuni o seguinte leque de vinhos.
Deixo aqui por ordem de saída a minha modesta opinião e o resultado da Prova Cega.
Os vinhos tintos foram todos decantados, os brancos foram somente tapados.
Soalheiro Primeiras Vinhas 2006 Alvarinho (Minho) – O prémio Excelência para a Revista dos Vinhos, apresentou-se com uma cor amarelo citrino com sugestões esverdeadas, aspecto cintilante, com presença de bolha muito fina, consequência provável da sua extrema juventude. A primeira sensação a atingir o olfacto é a extraordinária fragrância a jasmim que se liberta deste sensual Alvarinho, um regalo para o olfacto. Logo de seguida o vinho fecha subitamente, revelando notas interessantes de casca de pêssego, virando decididamente para uma forte componente vegetal, nomeadamente relva acabada de cortar. Confesso que em prova cega, nesta fase, iria de imediato para um Sauvignon Blanc do novo mundo! É neste momento que se acentua o carácter mineral que o acompanhava desde o início, dando origem a um vinho de forte personalidade. Após prolongado arejamento, a componente tropical sai reforçada, com a presença objectiva do maracujá, abacaxi e lichias que por vezes sugerem alguma doçura de aroma. Sem dúvida o melhor Alvarinho que provei até hoje. A nota saiu prejudicada pelo vinho que foi servido de seguida. Nota pessoal: 17 (média Prova:15,50)
Preço: 12€
Ridge Chardonnay Santa Cruz Mountains Estate 2005 (EUA) - O 2º classificado dos 100 melhores vinhos de 2007, para a conceituada revista de vinhos internacional “Wine Spectator”, apresentou uma cor amarelo ouro, brilhante e com alguma profundidade. Aromaticamente é quase doce, com gentis, suaves, e agradáveis sugestões de manteiga de amendoim torrado. Aroma gordo, aveludado, espesso, quase viscoso, com belíssimas componentes florais. A boca consegue ser simultaneamente gorda e cristalina, glicerinada e profundamente mineral, num vinho pleno de contradições saudáveis. A harmonia, o equilíbrio, a leveza, são notáveis, prometendo um vinho com uma notável capacidade de evolução e com bom potencial de guarda. A boca revela um mundo pedregoso que se desenvolve no copo de forma dramática. Estamos perante um belo vinho! A boca confirma em pleno a untuosidade, a gordura, a autêntica obesidade deste chardonnay, embora contradiga a aparente doçura aromática, com uma secura evidente. É um vinho cheio, rico, perfumado, um branco inconfundível e diferente no panorama mundial. Final de boca longo. Elegante e fino, revela-se pela harmonia e suavidade patentes e pela sua suavidade e delicadeza. Indiscutivelmente, um vinho que merece ser conhecido. Espero um dia que Portugal tenha um branco deste nível.
Nota pessoal: 18,5 (média Prova: 18,25)
Preço: 36€
El Puntido by Viñedos de Páganos 2004, Rioja (Espanha) – O 1º Classificado dos 100 melhores vinhos de 2007 para a conceituada revista internacional “Wine Enthusiasth”, apresentou-se com uma cor vermelha profunda, rotunda, com bordos mais aligeirados. É complexo, fino e elegante, com delicadas notas fumadas. O nariz também é rotundo, potente, carregado de fruta de qualidade e maturação irrepreensíveis. Ele são cerejas, groselhas, cassis, amoras, uma multiplicidade de frutas vermelhas e pretas em profusão. Mas há muito mais neste vinho que a simples presença da fruta. Também se destinguem notas especiadas, tabaco, cacau, aromas terrosos e balsâmicos sobre um fundo de violetas. Enfim uma miríade de sensações que enriquecem a prova e a sua complexidade.A boca é estruturada, com taninos marcados ainda a necessitar do polimento do estágio em garrafa. É no entanto um vinho guloso, fresco, saboroso, carnudo, um vinho extremamente agradável e apelativo. Fim de boca longo e intenso.
A média final deste vinho ficou prejudicada porque alguns copos apresentaram aromas a cartão, devido ao seu armazenamento.
Nota Pessoal: 16 (média Prova: 15,56)
Preço: 40€
Le Vieux Donjon Châteauneuf-du-Pape 2005 (França) - O 3º classificado dos 100 melhores vinhos de 2007, para a conceituada revista de vinhos internacional “Wine Spectator”, apresentou-se com uma cor moderada, com ligeira evolução nos bordos. Neste Châteauneuf-du-Pape as notas de farmácia, particularmente de tintura de iodo, são marcantes, bem como a superior sensação terrosa que o vinho transmite. Este vinho não esconde nem renega as suas origens, bem antes pelo contrário, é como que uma fotografia, uma chapa do lugar onde nasceu. O terroir é respeitado e o trabalho na adega respeitou aquilo que a natureza providenciou. Mas a fruta não foi negligenciada, uma fruta discreta, pouco exuberante, quase monástica, com leves sugestões a groselha que se alia aos aromas originais de erva seca.
Aromaticamente este Vieux Donjon revela-se um desafio e uma caixinha de surpresas para o nariz mais apurado.A boca é complexa, terrosa, rica, muito limpa e transparente. Não é particularmente longa, mas é de uma extraordinária elegância e harmonia. Ao contrário do que é apanágio da região, o vinho é concentrado e gordo, beneficiando das fantásticas condições climatéricas que tiveram lugar em 2005. Todo ele é evocativo das práticas do chamado velho mundo, da elegância, da finesse, da mestria no tratamento da madeira e na integração alcoólica. Um óptimo vinho.
O nosso painel continua a castigar todos os vinhos tintos franceses, estilo velho mundo. Mal chega ao nariz as notas de farmácia é como que se o vinho tivesse TCA, põem logo de lado. Para mim foi de longe o melhor vinho francês que provei até hoje.
Nota pessoal:16,5 (média Prova:13,69)
Preço: 45€ + 15€ Transporte
Antinori Toscana Tignanello 2004 (Itália) - O 4º classificado dos 100 melhores vinhos de 2007, para a conceituada revista de vinhos internacional “Wine Spectator”, um peso pesado da Toscânia apresentou uma cor vermelha púrpura profunda, uma cor que impõe respeito e consideração. Nariz impressionante pela envolvência, dimensão, intensidade e elegância que sugere. Se a fruta preta, com mirtilos e amoras, marca a sua presença, são no entanto os aromas de bosque e tabaco que lhe cunham o perfil de forma vincada.Suave, tranquilo, muito elegante, equilibrado, é um vinho amplo, firme e concentrado, mas redondo e aveludado no paladar. É musculado mas gracioso, estruturado mas sedoso, potente mas melódico, um acumular de incompatibilidades e complementos que o tornam tão cativante. A acidez fina e viva dá-lhe energia e firmeza que o prolongam num final de boca longo e intenso. Especiado, apresenta sugestões de couro, cereja preta e amora, um vinho com uma longa e prolongada carreira pela frente. A beber e guardar, pelo menos nos próximos dez anos.
Nota pessoal:17 (média Prova:16,19)
Preço:60€ + 15€ transporte
Mollydooker Shiraz McLaren Vale Carnival of Love 2006 (Austrália) - O 8º classificado dos 100 melhores vinhos de 2007, para a conceituada revista de vinhos internacional “Wine Spectator”, bastou mirar a cor deste vinho no copo para nos apercebermos do brilho, do poder, da força interior deste enorme Syrah. Elaborado a partir de cepas com 60 anos, este tinto australiano apresenta um leque quase perfeito de aromas, um arco com princípio e fim bem definidos, enorme em estatura, mas subtil no detalhe. Frutado, quase generoso, saturado de ameixas pretas é um colosso de concentração.
O álcool está perfeitamente integrado, o vinho é delicioso, os taninos são suaves e aveludados, terrosos, intensos, abrindo-se num leque perfeito. A acidez é fabulosa, fresca, vibrante. Estruturado, equilibrado, voluptuoso, cheio, é um vinho cheio de intensidade e profundidade. A boca sempre em perfeito crescendo, à medida que o vinho vai arejando, este é um vinho para durar mais de 10 anos.É um autêntico luxo, é sensual, lascivo, libidinoso, carnal.
Nota Pessoal: 19 (média Prova:18,25)
Preço: 50€ + 25€ Transporte
Quinta do Crasto Vinha Maria Teresa Douro 2005 (Portugal) – O melhor vinho português para todos os guias nacionais apresentou-se da seguinte maneira: Se tem medo do escuro evite olhar para ele porque é "de fugir". Se é contra a violência não o leve à boca porque vai ficar "knock-out". É isto que o espera ao aproximar-se deste vinho que, ainda fechado, é já um compêndio de aromas: notas minerais e terrosas dão o mote para um conjunto onde se misturam o fruto preto e as notas silvestres. Cola-se literalmente às paredes do copo e insinua-se com rara frescura, com a madeira e o poder alcoólico perfeitamente integrados. Demolidor na estrutura, imenso no extracto, grosso, com taninos suculentos, a pedir que o mastiguem e, ainda assim, refinado. Evolução em crescendo com um final inesquecível. Arrasador no estilo, excessivo na originalidade, é a expressão perfeita do seu terroir. Não será fácil escolher o casamento gastronómico ideal mas, em boa verdade, ninguém se quer divorciar dum vinho desta envergadura. Estamos perante um vinho de culto.
Nota Pessoal: 18,5 (média Prova: 18,44)
Preço: 120€
DSF Colecção Privada Moscatel Roxo 1998 (Setubal) - Primeira sugestão que salta imediatamente ao nariz, mel, uma intensa e simultaneamente delicada doçura. É então que surgem, quase em catadupla, os aromas mais complexos, do tipo casca de laranja, iodo, ligeirissimo sal e muitos aromas florais. Se o nariz deste vinho é espantoso, então a boca é perfeitamente surrealista. Gorda, untuosa, parece autêntica seda liquida com muita casca de laranja. Espantosamente fresco este Moscatel dura e dura e dura e dura na boca, sem dar mostras de alguma vez querer abandonar o paladar.
Nota Pessoal: 17 (média Prova: 17,25)
Preço: 19€
Tokaji Aszú Oremus 6 Puttonyos 2001 (Hungria) - Oferta do nosso confrade Pedro Lilaia, que numa viagem á Hungria trouxe este néctar par nós apreciarmos. Apresentou-se na sua linda cor citrina, cristalino de aromas, límpido como um cume alpino, com intrigantes sugestões de leite fervido e natas. A mineralidade é quase assustadora, um manto pedregoso de calhau rolante e sílex, neste caso escoltado por engraçadas e refrescantes notas de maçã Granny Smith..Untuoso, gordo, glicerinado, viscoso, tão doce e gorduroso que necessariamente tem de ser pecaminoso. Toda a doçura é temperada e domesticada por uma acidez felina que o refresca e lhe prolonga o final. A boca grita pêssego e alperce a uma só voz, o equilíbrio é notável, e a luxúria instala-se nos nossos neurónios, toldando-nos o juízo por inteiro. Um vinho quase obsceno de lascívia e voluptuosidade! Somos transportados ao céu, mas acabamos transformados em pecadores.
Nota Pessoal: 18 (média Prova: 17,86)
Por último, os nossos sinceros agradecimentos ao Luis e ao Cheff Jaime do Hotel Leziria Park em Vila Franca de Xira. Não fossem o seu empenho e a sua total disponibilidade e nada disto teria sido possível. Revelaram enorme profissionalismo e desempenharam exemplarmente o papel de anfitriões. A eles se deve toda a estrutura logística montada em redor deste evento: salas, e toda a panóplia de requisitos indispensáveis para uma prova. Uma refeição esmerada, uma gastronomia de elevado padrão qualitativo e concepções culinárias com elevado sentido estético, um grande obrigado.