O novo restaurante "Club" em Vila Franca de Xira é uma lufada de ar fresco para a cidade ribatejana. Aproveitando o espaço do "Clube Vilafranquense", uma casa centenária nascida em 1886, vestido com uma idumentária informal e chique, de luz suave e música que vai bem com o espirito em estado flutuante.
Penso que o mesmo foi criado para todas as pessoas que gostam de comer bem e que procuram inovação e qualidade gastronómica.
A ementa pode-se dizer que é uma conjugação de tradição e modernidade, foram criadas receitas onde a identidade dos produtos foi respeitada e a sua combinação valorizou significativamente o conjunto. E isto constitui, para além de um gesto criativo, uma incontorável mais-valia para o cliente e para a região.
O jovem Chefe é Henrique Mouro trabalhou com Aimé Barroyer durante sete anos no restaurante "Valle-Flôr" no hotel Pestana Palace, segue por isso a mesma linha de orientação mas com um toque pessoal em tudo o que faz.
O jantar foi totalmente comandado pelo Chefe Henrique, e ele e a sua equipa não se fez rogada porporcionando um manjar dos Deuses, que passo aqui a descrever:
MIMOS CÁ DA TERRA
"Folhinhas de Louro", linguadinhos e camarões do rio e morangos, ensaios sobre uma combinação ( Divinal é a palavra, um prato ribatejano criativo)
Melão encapotado e assado em presunto alentejano ( Estava correcto, uma entrada tradicional mas elaborada e distinta)
Um consommé á portuguesa (Muito bom)
Um caldinho de caracois e um pastel com oregãos (um espétaculo de sabores)
D'entre o Tejo e o sado Enguias de tomatada e batata-doce num puré ( excelente e criativo este prato tipicamente ribatejano)
DA SUGESTÃO DE UM AVIEIROCorvina do rio num caldo de navalheira e salada de chocos ( uma conjugação de aromas e sabores para mais tarde recordar, é um dever experimentar este prato)
DE UMA TOURADA
Lombo, chambão e pivete numa ilustre reunião ( uma homenagem á festa brava, a carne estava seculenta feita com produtos da região)
O PECADO DA GULAMorangos e gelado de pampilho (uma brisa deVerão)
Limão numa mousse de queijo fresco (Um refresco)
O pudim de pão com gelado de cereja ( delicioso)
Chocolate, hortelã e groselhas ( um pecado para a dieta)
Já sei, já sei, falta falar dos vinhos, a carta dos vinhos está bem elaborada e bem explicada. Os preços são ajustados, existe vinho a copo e é praticado o "BYOB-Bring your own Botle". E foi isso que fizemos, levei comigo três garafitas, que passo aqui a descrever:
Didier Dagueneau Pouilly Fume Buisson Renard 2004 (Br-França) -
Cor amarelo ouro claro. Basta levar o copo ao nariz pela primeira vez para logo a boca se abrir de espanto face a tamanha concentração, complexidade e intensidade. Surge de imediato um sentimento de alvoroço na perspectiva de nos dedicarmos à tarefa hercúlea de conseguir catalogar tantos aromas e de origem tão diversa. Sejamos então sistemáticos. Podemos começar pela fruta, pela maçã madura, pela pêra generosa e pelos pormenores suaves a pêssego. Temos também de mencionar as notas melosas, a profundidade da terra molhada e o toque de caramelo. Finalmente, não podemos passar ao lado do fantástico lado floral, um jardim na graça da primavera a iluminar as narinas. Sempre sem exageros, sem impertinências, sempre responsável e bem-educado. Intenso, mineral, cheio de gravilha, cobre o palato de fruta branca, numa explosão mista de fruta e pedra capaz de devolver a vida a um moto! Estruturado, relativamente gordo, a acidez não dá tréguas, mantendo-se sempre em forma, estaladiço e objectivo. É um vinho de enorme complexidade, rico e equilibrado e com um longo e poderoso fim de boca que convence os mais cépticos. Com vinhos brancos assim, quem é que tem coragem para dizer que só tinto é que é vinho? Nota:17
Two Hands Lily's Garden Shiraz 2004 (Tn-Austrália- Mclaren Valley) - Um verdadeiro «Blockbuster», portentoso na côr e na concentração. Ultra-glicerinado, chora que se desunha e, contudo, não se lhe vislumbra o mais pequeno"beliscão" alcoólico. Enorme vigor aromático, de empatia imediata, com a doçura do fruto preto ( ameixa e cereja ) e as notas especiadas entrelaçadas com a mais sedutora das madeiras. Uma boca irrepreensivel, de perfil "XXL", onde o corpo, estrutura, extracto, frescura, arquitectura titânica e final deixam qualquer um boquiaberto. Um tinto lindissimo, longe de modas, a alta-costura servida a copo.
Nota:18,50 La Cueva Del Contador (Tn-Espanha-Rioja) - O aroma é denso com notas evidentes de chocolate, de fruto preto, e de madeira. Uma componente gorda, a lembrar manteiga, confere um carácter espesso ao aroma. Ao agitar o copo soltam-nos nuances vegetais, a lembrar seiva e resina. Existe uma ligeira doçura.
Na boca, o final é longo e fresco, com persistência de sabores concentrados a madeira e a vegetais. A forte carga de taninos acaba por secar os sabores, originando uma envolvência moderada/longa do palato. Uma ligeira percepção amarga, indica-nos que o vinho necessita, ainda, de algum polimento. Devemos esperar pelo menos mais dois anos para voltar a abrir uma garrafa. Nota:17
Por fim desejo ao Sr.Manel e ao Sr. Ferreira proprietários do "Club" as melhores felicidades e sucesso para o seu novo e ambicioso projecto, eu pelo menos tentarei contribuir para que tal suceda.
Fica também aqui um agradecimento á Ângela e ao Jorge pelo profissionalismo e disponibilidade que apresentaram.
Pensamento : "Na carne em vinha de alhos é bom que a carne saiba a carne e os alhos saibam a alhos"