Puros & Vinhos

terça-feira, dezembro 30, 2008

CRÓNICA DOS VINHOS DO 5ºÉPICO JANTAR DE NATAL DOS PUROS

Mais uma vez os Puros & Vinhos reunirão-se á mesa para mais um jantar de natal, sempre considerado o jantar dos jantares.
Estiveram presentes os seguintes 13 confrades: Luis Diniz, Paulo Sousa, António Chaparro, António Amaro, Rogério, Mário João,Luis Pedro, Bernardo,Nuno Anjo, Nuno Santos, David,Tóninho e Pita.

Ruinart Blanc de Blancs Magnum - É já um clássico á mesa dos Puros. Como diz Robert Parker - "This house is all about blanc de blancs".

Tonalidade citrina . Notas de maçã e suave vegetal. Bolha fina e mousse bastante macia a deixar que a fruta se expresse com maior definição. Ataque macio, contido no gás, revelando frescura, bem expressa na vivacidade e intensidade dos sabores citrinos. Boa persistência final, com suave secura, repetindo as notas citrinas. Um conjunto que emana requinte e refinamento.
Média final: 18
Prova Cega de Brancos


Os vinhos compareceram na mesa pela seguinte ordem:

Redoma Reserva Branco 2007 (Douro) - Na minha opinião foi o vinho mais equilibrado dos 3 vinhos provados e o que tinha o aroma mais aberto e sedutor. Cor amarela dourada, sem ser demasiado pronunciada. Aroma com forte presença vegetal, notas claras de barrica, presença explícita de fruta cozida e fruta em calda, sem no entanto insinuar qualquer tipo de doçura. Pêra cozida, alperce em calda, é um branco deveras original e apelativo.Estruturado, cheio, denso sem nunca ser viscoso, confirma por inteiro aquilo que o nariz sugeria. Seco, cristalino na acidez, temos um vinho de guarda, um branco diferente que nos revela qualidades e virtudes inesperadas. Não será um branco consensual, como não o foi nesta prova, pelo que se percebeu nas notas os confrades preferem mel e encorpado a equilibrio e fruta evidente.
Tendo obtido a preferência de um confrade.
Média Final: 16,25

Conceito Branco 2007 (Douro) - Este foi o branco que mais embaraços criou nos provadores, pois todos diriam que estava ali o vinho mais a sul em prova.
Cor amarelo ouro claro. Basta levar o copo ao nariz pela primeira vez para logo a boca se abrir de espanto face a tamanha concentração, complexidade e intensidade. Podemos começar pela fruta, pela maçã madura, pela pêra generosa, temos também de mencionar as notas melosas, o toque do caramelo.
Na boca mostra-se intenso, cobre o palato de fruta branca. Estruturado, gordo, a acidez não dá um segundo de tréguas, mantendo-o sempre em forma, estaladiço e objectivo. É um vinho rico, equilibrado e com um longo e poderoso fim de boca que convence os mais cépticos.
Tendo obtido a preferência de 4 confrades.
Média Final: 17,65

Esporão Private Selection 2007 (Alentejo) - Este foi o vencedor da noite por escassos 0,05 pontos.
Está algo pesado no nariz, nota-se o mel, muitos apontamentos da barrica. Mostra ainda um carácter vegetal meio tímido que poderia recordar ervas aromáticas frescas.Boca bem mais interessante que o nariz, com uma entrada calma e rechonchuda e um final intenso e muito vivo. Sempre em crescimento na boca, um movimento constante de expansão, com um final em grande, acidez forte e final duradouro.
Tendo obtido a preferência de 4 confrades.
Média Final: 17,70
PROVA CEGA DE TINTOS

Devo dizer que foi a prova de vinhos mais equilibrada que os Puros & Vinhos realizaram, entre o primeiro e o quarto existe a diferença somente de 0,70 pontos.
Os vinhos foram decantados 1 hora antes de serem servidos, e compareceram á mesa pela seguinte ordem:

Clos Mogador 2005 (Priorato/Espanha) - Mostra-se negro, opaco, impenetrável, um buraco negro onde apenas o bordo se mostra violáceo. Aromas potentes e complexos, onde se destacam as fortes notas minerais e balsâmicas, as especiarias, baunilha, ervas de tempero, incenso, fumados, tosta, café e sintomas de torrefacção. Depois entra em cena a fruta, ampla e opulenta, muito concentrada, madura, muita cereja, ameixa, ameixa confitada, amora, mirtilos, uma fruta franca, generosa e muito elegante. Mas há mais, as notas de madeira exótica, cedro e acácia, chocolate, notas licorosas, terra molhada, bosque, cogumelos, um mundo de cheiros que entusiasma e nos deixa apaixonados pela fragrância aromática que se liberta do copo.Potente, equilibrado, amplo e elegante, concentrado, mostra uma boa combinação entre potência e suavidade. Levemente doce, taninos possantes, encorpado, rico, revela enorme concentração de fruta preta, bem acompanhado pela acidez discreta mas potenciadora da frescura deste Priorato. Final muito longo, carnudo, é um vinho que apesar da dimensão nunca cai no disparate ou no exagero.
Obteve a preferência de 1 confrade
Média Final: 18,20

Cortes de Cima Reserva 2004 (Alentejo) - Este é umvinho preto retinto, impenetrável, escuro como breu, com o menisco de cor púrpura.Aroma frutado, intenso, carregado de fruta preta com muita amora, baga silvestre e mirtilo. Há também um fundo floral que "embeleza" e suaviza a carga frutada primária. As características do terroir são visíveis, sobretudo através da forte componente mineral que o nariz transmite. A barrica está bem integrada e o álcool não pesa em demasia. Não se pode ignorar o aroma alicorado que se solta do copo, uma sugestão adocicada, que demonstra em parte a sua origem de terra quente. Depois dos aromas, estávamos à espera de uma boca pastosa, pesada e enjoativa e afinal somos surpreendidos por um vinho equilibrado e coerente. A boca é mesmo perigosamente convidativa e acessível. Taninos sãos, poderosos mas bem educados, acidez bem integrada, é um vinho fresco e agradável. É potente sem ser excessivo e tem um fim de boca médio.
Obteve a preferência de 2 confrades.
Média Final: 18,05

Robustus 2004 (Douro) - Cor vermelha púrpura profunda, uma cor que impõe respeito e consideração. Nariz impressionante pela envolvência, dimensão, intensidade e elegância que sugere. Se a fruta preta, com mirtilos e amoras, marca a sua presença, são no entanto os aromas de bosque e tabaco que lhe cunham o perfil de forma vincada. Suave, tranquilo, muito elegante, equilibrado, é um vinho amplo, firme e concentrado, mas redondo e aveludado no paladar. É musculado mas gracioso, estruturado mas sedoso, potente mas melódico, um acumular de incompatibilidades e complementos que o tornam tão cativante. A acidez fina e viva dá-lhe energia e firmeza que o prolongam num final de boca longo e intenso. Especiado, apresenta sugestões de couro, cereja preta e amora, um vinho com uma longa e prolongada carreira pela frente.
Obteve a preferência de 1 confrade.
Média Final: 18,10

Two Hands Lillys Garden 2005 (Mclaren/Australia) - Cor profunda e intensa. Mostra aromas complexos de ginga, amora, especiarias, chocolate preto, enfim uma multitude de aromas impressionante. Antevê-se uma certa doçura no nariz, quase licor, com fruta muito madura mas com uma impressão de acidez revigorante. O que nesta fase não é nada discreta é a presença de madeira, fortíssima, intensa, indisfarçável.Ameixa preta madura e pimenta moída de fresco, são os primeiras sensações transmitidas ao palato na prova de boca. Os taninos são do tipo macho, fortes, assertivos, intensos, quase aterradores. Com o arejamento, os taninos suavizam um pouco, a cor perde alguma da sua potência e o vinho mostra-se mais "educado". Apesar da ligeira sensação de doçura transmitida pela fruta muito madura, a acidez penetrante devolve-lhe elegância, frescura e equilíbrio. A madeira de carvalho, a fruta madura e a acidez pronunciada travam uma curiosa batalha pelo domínio do palato num final de boca impressionante e extraordinariamente prolongado.
Obteve a preferência de 6 confrades
Média Final: 18,75
Para a sobremesa

Niepoort Moscatel "2000" (Douro) - Apresenta cor amarelo ouro, com aromas pronunciados à casta e notas doces muito evidentes, sem no entanto se tornarem enjoativas e sem perderem a frescura aromática. Pêssego, alperce, lichias e mesmo algum coco saltam ao nariz de forma espontânea e sincera. Doce, bastante doce, está equilibrado pela acidez qb que o sustenta. Glicerinado, gordo, muito floral e frutado, é um Moscatel diferente e curioso que valia a pena conhecer.Ficamos no entanto com a dúvida sobre a melhor ocasião para o beber, se a acompanhar uma sobremesa, se sozinho...
Média Final: 16

Puro Vs carcavelos
Quinta do Barão Carcavelos Vinho Velho -Cor âmbar clara. Aroma com casca de laranja, alguma cera, notas de torrada e tostado. Seco, complexo, muito longo na boca.
Nota pessoal - 15,5

Ramon Allones Gigante -Um dos melhores charutos provados em 2008, com um tiro limpo e cheio, uma cobustão perfeita, com sabores a cacau, menta e couro. Muito equilibrio de inicio ao fim. Excelente charuto
Nota pessoal: 18

Bom ano a todos e boas provas para 2009

A CRÓNICA GASTRONOMIA DO 5º JANTAR DE NATAL POR ANTÓNIO AMARO


Mais um excelente jantar de Natal dos Puros e Vinhos.

Começamos a ter uma certa tradição nestes jantares. O nível está bastante elevado.
Tendo sido instituído, pelo nosso Presidente, como narrador dos comes, aqui vai então uma “impressão” deste nosso jantar.

O repasto teve lugar no Restaurante Club, em Vila Franca de Xira.
A ementa do jantar bem como dos vinhos a provar já faz parte de uma das informações do blog, pelo que não vou aqui repeti-la.

Uma mesa de postura irrepreensível, sóbria com os brancos dos atoalhados e louças a competirem em brilho e limpeza com o excelente conjunto de copos para prova.

Pão e broa, para degustar em azeite virgem extra e uma branca manteiga de cabra, deram inicio à refeição e ao convívio da noite.

Às 20.30h, iniciámos a nossa degustação pelo também já tradicional Ruinart Blanc des Blancs, o melhor champagne aperitivo que já provei.
“Carpaccio a fingir com diospiro de roer”.
A relevância deste prato vai para mim na leveza, equilíbrio e sabor resultantes da perfeita conjugação de todos os ingredientes. Um excelente início.

Para nos preparar para os pratos mais “quentes” uma “Canja de perdiz assada com cheróvias”, servida a seco e acompanhada do seu caldo em recipiente separado. Mistura efectuada imediatamente antes de comer e mais um bom prato a todos os níveis, empratamento textura e sabor, com o toque do tomilho a temperar muito bem esta canja que nos deu o mote para os restantes quentes.

Nesta fase já se vivia uma acesa discussão decorrente da prova do primeiro branco, nada consensual, como se verificou nos comentários finais.

Começámos o peixe pelo prato que para mim foi a melhor surpresa da noite. Não necessárimente e apenas pelo sabor, mas por todo o seu significado.
“Sardinha frita com ameijoa e batata-doce”.
Majestosamente executado e empratado o sabor confirmou aquilo que os outros sentidos já tinham prenunciado. Muito bom, muito português, um prato de cozinha de autor sem dúvida, um prato para todos os sentidos.

E passámos pelo segundo branco da noite. Aquele a que após alguma acesa discussão todos apelidaram de sem dúvida, Private Selection Branco 2007!!!

O prato seguinte, Linguado assado em massa Kadaif e raizes”, creio que foi o que maior consenso terá tido, pelo menos da minha ala direita ouvi sobre este prato os maiores elogios. Eu também gostei muito e o linguado perfeitamente camuflado na massa Kadaif (este empratamento é uma boa metáfora para a camuflgem do linguado no seu habitat natural) revelou-se na boca suculento e de textura perfeita. Eu diria que ignorando todos os outros sentidos e destacando apenas o sabor este terá sido o prato que resultou no sabor mais delicado e harmonioso. Eu contudo, preferi no prato anterior, o “embate” entre o sabor fresco da ameijoa no suco da sua cozedura com a suculência e opulência da sardinha frita, com a batata doce a ser o perfeito árbitro deste desafio.

Nesta fase iniciàmos os tintos, e verificámos as primeiras surpresas da noite ao conhecermos os vinhos brancos que até aqui tinhamos bebido.

O ultimo prato antes da sobremesa, “Vitela de leite no forno com pistachos e presunto”, ainda que menos fora do vulgar, trouxe-nos nesta fase algum corpo e estrutura necessários a acomodar os vinhos bebidos até então. Nesta fase do jantar os ânimos já estavam mais altos, mas relembro ainda os sabores e textura suave do recheio que em conjunto com a vitela, suspiravam pelo puré de maçã que os acompanhava. Os pistachios emprestavam aqui um toque ligeiramente salgado, a temperar o prato muito bem. Muito reconfortante e deu-me outro alento para suportar mais um ou dois copos dos 4 deslumbrantes tintos que provàmos.

A sobremesa, “O nosso pão de ló com gelado de laranja”, é já nesta fase e sobretudo nestes jantares de Natal mais mal avaliada, contudo recordo-me que a combinação do bolo com o gelado estava brilhante, sendo requintado o sabor que emprestava a fina fatia de laranja caramelizada a este conjunto.

Apenas dois comentários. Relativamente ao Menu eu teria trocado a ordem de servir entre o linguado e a sardinha, por acreditar que este último prato serve bastante melhor de ponte entre os brancos e os tintos. O linguado perdeu um pouco ao ser já acompanhado por um tinto.
E este tema da “maridagem” entre pratos e vinhos também não foi o ponto forte da refeição. Comemos excelentes pratos, bebemos majestosos vinhos mas a conjugação individual entre cada prato e o vinho não foi ao mesmo nível dos seus valores individuais. Convém aqui ressaltar que este aspecto se deve apenas aos Puros já que os vinhos foram escolhidos por nós.

Em resumo, para mim este jantar pertence ao conjunto dos 10 melhores que já tive e o conjunto dos vinhos bebidos representou a melhor prova de conjunto que até agora tive. É verdade que os tintos do jantar de Natal do ano passado também estiveram a este nível.

Os meus parabéns a toda a equipa do Restaurante Club, que nos serviu um requintado jantar de cozinha de autor. Estes pratos nao resultam apenas da inspiração diária, mas denotam claramente experimentação, toque de autor e uma percepção moderna dos vários sentidos com que actualmente se pode apreciar um prato.

Os meus desejos de um Feliz Natal e um excelente ano de 2009 ao Restaurante Club e a todos os membros dos Puros & Vinhos, extensível como é óbvio às respectivas famílias.

António Amaro, PUROS & VINHOS


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terça-feira, dezembro 02, 2008

Kim Marcus Portugal Reds

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