MAGNANIME JANTAR DE NATAL DOS PUROS & VINHOS
Á mesa estavam mais uma vez reunidos o grupo Puros & Vinhos, Luis Diniz, Paulo Sousa, António Chaparro, Nuno Cardoso, Luis Pedro, António Matos, Pedro Lilaia, Paulo Serra, Nuno santos, Mané Cerejo, Pita, Barata, Malé, Mário João, Nuno Anjo, Nuno Mezaros e o Sérgio. Alinharam na "grelha de partida" para mais uma prova dos Puros & Vinhos os seguintes vinhos: Ruinart Blanc des Blancs; Esporão Private Selection branco 2004; Vallado reserva 2003; Quinta de Vale Meão 2003 e Mas Doix 2000. Conseguem vislumbrar um motivo maior para fazer crescer "vinho na boca"? Então imaginem......em MAGNUM! Um privilégio raro não só pelo reduzido número de exemplares produzidos, mas também por se tratar de um formato consensualmente aceite como o que mais favorece a evolução e o potencial de envelhecimento dos vinhos. As delícias de qualquer enófilo.... Enfim, tudo em grande...
Comecemos pelo Ruinart, tonalidade citrina suavemente esverdeada. Notas de pão fresco, ananás, maçã, bolha fina e mousse bastante macia a deixar que a fruta se expresse com maior definição. Ataque macio, contido no gás, revelando frescura, bem expressa na vivacidade e intensidade dos sabores citrinos. Boa persistência final, com suave secura, repetindo as notas citrinas. Um conjunto que emana algum requinte e refinamento ( 17,54 Pontos).
Quanto HES 2004 Nº2 ( Herdade do Esporão Selection 2004 Branco ) um vinho contra a corrente, um branco que desafia convenções e que assumidamente expressa a vontade de fazer diferente, uma aposta muito original! Basta vê-lo no copo, com a sua cor dourada muito velha, para se perceber que este branco é diferente. Este estilo de cor só costuma aparecer após anos, décadas de vida, sendo insólita num vinho ainda tão jovem. Mas se por acaso a cor lhe passar ao lado, o nariz encarrega-se imediatamente de o alertar para as particularidades deste branco original. Um aroma denso, de fruta cozida, pêra, marmelo em calda e nêspera muito madura. Mas o que mais impressiona é a madeira, as frescas notas de menta e eucalipto, e mesmo uma ou outra indicação de avelãs.Gordo, volumoso, boa acidez que disfarça as pregas da gordura... o vinho nunca se torna plano, final longo, persistente, foi considerado o melhor vinho português provado pelo grupo ( 18,50 pontos ).
A classificação final dos vinhos tintos foi a seguinte:
1º Mas Doix 2000 17,93
2º Quinta de Vale Meão 2003 17,87
3º Quinta do Vallado 2003 Reseva 15,43
Em relação aos dois vinhos portugueses e com óbvias oscilações de vinho para vinho, ambos se mostraram fechados de inicio, talvez por serem muito jovens, mas a impressão geral dá conta de uma preocupação clara com a harmonia e o equilíbrio dos vinhos em detrimento da potência e da concentração. E, a melhor prova disso é que sendo vinhos com elevada graduação, denotam uma boa integração alcoólica. Percebe-se que não se anda ali à procura de "monstros", vinhos retintos, macerações extremas e de álcool "à flor da pele". Menos fechados que muitas "estrelas" do firmamento duriense, sem a severidade de alguns aromas químicos, denotando sempre a presença de frutos vermelhos, um cunho especiado e uma muito envolvente componente balsâmica que lhes confere originalidade e os torna particularmente sedutores ao nariz, neste particular o Vale Meão mostrou-se melhor, na boca os vinhos mostram-se medianamente encorpados, primando pela elegância e deixando sempre perceber uma evidente componente frutada. Não sendo portentos de estrutura, rejeitam qualquer "lapso" ou "hiato" na evolução e manifestam apreciável persistência final.
Ao contrário o “ Mas Doix 2000 “ , como é costume na região, é negro, opaco, impenetrável, um buraco negro onde apenas o bordo se mostra violáceo. Aromas potentes e complexos, onde se destacam as fortes notas minerais e balsâmicas, as especiarias, baunilha, ervas de tempero, incenso, fumados, tosta, café e sintomas de torrefacção. Depois entra em cena a fruta, ampla e opulenta, muito concentrada, madura, muita cereja, ameixa, ameixa confitada, amora, mirtilos, uma fruta franca, generosa e muito elegante. Mas há mais, as notas de madeira exótica, cedro e acácia, chocolate, notas licorosas, terra molhada, bosque, cogumelos, um mundo de cheiros que entusiasma e nos deixa apaixonados pela fragrância aromática que se liberta do copo.Potente, equilibrado, amplo e elegante, concentrado, mostra uma boa combinação entre potência e suavidade. Levemente doce, taninos possantes, encorpado, rico, revela enorme concentração de fruta preta, bem acompanhado pela acidez discreta mas potenciadora da frescura deste Priorato. Final muito longo, carnudo, é um vinho de hipérboles que apesar da dimensão nunca cai no disparate ou no exagero. Um vinho que dá enorme prazer beber e que embora dando enorme prazer agora, deve ser guardado para começar a ser aberto daqui a algum tempo.
Quanto ao Krasher, este Beerenauslese cumpre a delicada e espinhosa missão de servir de "cavalo de batalha", ou seja de entrada de gama do produtor. E, meu Deus, se isto é o segmento baixo, resta-nos apenas suspirar e sonhar com a gama alta, que essa, não deve ser para meros mortais! A primeira "bofetada" que nos atinge, é a dimensão da fruta exótica, de toda a luxúria que representa. Fruta muito madura, quase decadente, fruta que se situa num ponto intermédio entre o barroco e o surrealismo. Logo em seguida surgem em catadupla o mel, a compota, o pêssego, a casca de pêssego e alperce, o melão, a bolacha, os aromas florais e novamente o mel.A boca apenas confirma o que já esperávamos, uma suave doçura apoiada num acidez intensa, o pêssego a dominar e o álcool a nem se notar. Não é o vinho mais complexo do mundo na boca, mas é um vinho que gera muitas horas de prazer. É um belo vinho. (17,40 pontos)
Por último falemos mais uma vez do DSF Moscatel/Armagnac, um Moscatel demolidor. Este Moscatel já mostra cor ambarina perfeita, um acobreado ligeiro que enche o olho. Mas nada nos pode preparar para o que aí vem, uma invasão aromática de tal intensidade que basta uma pinguinha no copo para perfumar uma sala de dimensões generosas. Aroma muito melado, melaço, cana de açúcar, reconhece-se o Armagnac, por vezes lembra Cointreau pela forte presença da laranja fresca e da casca de laranja cristalizada. Ainda há tempo para as notas citrinas e para uma leve torrefacção, isto é um festim para o nariz, uma explosão aromática que quase assusta.Infinito, infindável, atenção que ele não sai da boca e no dia seguinte ainda fica no palato e no paladar! Insinuante, fresco, arrasa com o caramelo, a laranja, as farripas de laranja cristalizada com chocolate.(19,95 pontos)
Por último, os nossos sinceros agradecimentos a Lidia Conde, Nuno, Luis e ao Cheff Valter do Hotel Leziria Park em Vila Franca de Xira. Não fossem o seu empenho e a sua total disponibilidade e nada disto teria sido possível. Revelaram enorme profissionalismo e desempenharam exemplarmente o papel de anfitriões. A eles se deve toda a estrutura logística montada em redor deste evento: salas, e toda a panóplia de requisitos indispensáveis para uma Magnânima prova... de cair para o lado!Uma refeição esmerada, uma gastronomia de elevado padrão qualitativo e concepções culinárias com elevado sentido estético, um grande obrigado.