
Só falar dos nomes, o espirito de qualquer apreciador de vinhos treme ao serem pronunciadas as palavras mágicas.
Mas falemos mais a sério! Esta prova tinha como ideia principal comemorar o 3º aniversário do grupo Puros & Vinhos e ao mesmo tempo colocar em confronto alguns dos vinhos de topo do panorama Nacional.
Deste modo foram lançados para cima da mesa os seguintes 3 vinhos, que seriam testados na arena em prova cega: Campo Ardosa RRR 2003; Charme 2004 e o Cortes de Cima Reserva 2003.
Nesta prova juntaram esforços para testar as pingas os elementos dos designados “PUROS & VINHOS”, Luis Diniz, Paulo Sousa, António Chaparro, Luis Pedro, Nuno Cardoso, Nuno Santos, Paulo Serra, Sr. Presidente José Matos, Mário Cerejo, Rui Pita, Nuno Anjos, Nuno Fernandes, Pedro Lilaia, Mário joão, António Amaro e o Barata. Os vinhos foram decantados 1 hora antes do jantar e quando se apresentaram na mesa era tudo tinta-da-china! Muito escurinhos o que já adivinhava o altíssimo grau de dificuldade da prova.
Os vinhos revelaram estar em grande forma, evidenciando uma grande qualidade, apresentando a irreverência própria da juventude. Aliado a isto tudo, tínhamos a robustez , a elegância e o elevado grau alcoólico, estilo muito marcante nesta gama de vinhos.
Os resultados obtidos foram bastante interessantes, sendo a diferença na pontuação média absoluta entre o 1º e o 3º classificado pequena.
A classificação ficou assim ordenada:
1º Cortes de Cima Reserva 2003 18,0 valores
2º Campo Ardosa RRR 2003 16,93 Valores
3º Charme 2004 16,63 Valores

O vencedor foi o
Cortes de Cima Reserva 2003, foi o vinho que reuniu maior consenso entre os confrades, sendo o melhor para a grande maioria. O Alentejo é pródigo em vinhos frutados e generosos, de que este não é excepção, mesmo se situa num patamar nitidamente superior à norma. Este tinto de cor rubi começa por nos bafejar com fortes notas fumadas, uma colecção variada de aromas de torrefacção. Mas a fruta é uma aliada de peso, e não se faz rogada no copo, revelando a amora, cassis, ginga, e um toque exótico de figo. Com o tempo, descobrem-se as especiarias, a noz moscada, as sugestões de caça e uma pincelada de cedro que lhe assenta bem.
Entra fino e escorreito, delicado, para logo crescer em dimensão, sempre apoiado numa acidez fina que nunca ultrapassa as raias da decência. Volumoso e cheio, estruturado, denso, mas simultaneamente delicado. Final longo, bem prolongado e duradouro, temos um grande reserva de Cortes de Cima a mostrar que o Alentejo também sabe fazer grandes vinhos. Como JPM diz no seu livro, vale a pena degustar este vinho e ao mesmo tempo falar sobre ele.

Em segundo Lugar ficou o
Campo Ardosa RRR 2003, o must dA Quinta da Carvalhosa. Eis a edição "luxuosa" do Campo Ardosa, a edição Reserva desta surpresa alemã no Douro. Curiosamente, os produtores optaram por lhe chamar RRR e não reserva. A explicação para o nome é muito curiosa. Deste vinho planeiam-se fazer apenas duas ou três edições por década e o triplo R, com a insistência na inicial de Reserva, pretende demonstrar a exclusividade do vinho. As castas utilizadas são as mesmas que no Campo Ardosa "normal", o tempo de estágio em madeira também é o mesmo, apenas difere o cuidado na selecção das uvas. Estas foram seleccionadas bago a bago, procurando sempre os bagos mais maduros, mesmo já com alguns princípios de desidratação. No fundo bagos perfeitamente saudáveis, mas já ligeiramente encarquilhados.
Cor vermelha retinta, sem exageros de coloração, mas aparentando grande concentração, cor cerrada, compacta, densa, profunda. Digamos que é um bom prenúncio do que vem a seguir. É excelente a concentração de fruta de muito bom recorte. Fruta preta e vermelha, intensa, de extraordinária elegância e graciosidade. Bela integração alcoólica, sem pontas a descoberto. Madeira de boa qualidade, bem integrada na estrutura do vinho.
Muito elegante na boca, rendilhado, proporcionado, harmonioso, tem tudo no sitio certo. É um modelo de finura, de bom gosto, de equilíbrio. Confirma a fruta distinta, e mostra que tem taninos possantes, mas muito bem comportados, bem "domesticados" e a obedecer ao dono. Longo fim de boca, ajudado pela acidez fina, mas discreta. Muito agradável o toque mineral que se sente na retaguarda. Demonstrando que um bom vinho é elegante desde o inicio, mas ainda tem potencialidades para evoluir consideravelmente no futuro. Um Reserva a reservar sem hesitações.

E em 3º lugar ficou a decepção para alguns, o
Charme 2004. Bonita cor vermelha retinta, densa, cheia, mas sem chegar aos exageros das novas "bombas de cor" durienses.
Suavidade e compostura, eis a primeira sensação transmitida por este Charme. Fruta preta muito aristocrata, muito bem educada. Tudo da mais distinta linhagem. Sempre a apostar no charme e na discreta elegância. Este seguramente não é um vinho "pato bravo", não existem dourados nem ornamentos desnecessários. Felizmente, e um pouco ao arrepio de uma certa moda recente do Douro, a integração alcoólica é perfeita, não se sentido a sua presença, tal como é recomendável. A outra excelência reside no trabalho efectuado com a madeira, a louvar pelo esmero e integração. Existe no final, uma vertente aromática do vinho que nos remete para a doçura, mas não em intensidade suficiente para prejudicar a prova.
A boca é plena de concentração. Confirma a presença de fruta elegante, mantém o equilíbrio e elegância, mas aumenta consideravelmente o grau de concentração. Todo ele é fino, elegante e clássico, sem extravagâncias nem lantejoulas. Mas não deixa por isso de mostrar o seu lado de suave força da natureza.
Antes da prova cega, no inicio do jantar foi servido o Champagne
Deutz Blanc des Blanc Millesime 1998 para brindarmos ao 3º aniversário, Tonalidade ouro palha. Perfil combinando pêssego e alperce. Ataque com gás proeminente com bolha média/fina. Mousse abundante mas a pedir mais finura. Perfil moderadamente seco com os sabores citrinos a prolongarem-se num longo final. Alguma garra num champanhe que pedia também alguma finesse.
13,58 Valores
Depois com a entrada bebemos o
Guru 2005, Cor amarela dourada, sem ser demasiado pronunciada, uma cor linda que desperta curiosidade imediata. Aroma com forte presença vegetal, notas claras de barrica, presença explícita de fruta cozida e fruta em calda, sem no entanto insinuar qualquer tipo de doçura. Pêra cozida, alperce em calda, é um branco deveras original e apelativo.
Estruturado, cheio, denso sem nunca ser viscoso, confirma por inteiro aquilo que o nariz sugeria. Seco, cristalino na acidez, temos um vinho de guarda, um branco diferente que nos revela qualidades e virtudes inesperadas. Não será um branco consensual, não tem fruta fácil e evidente, não tem aromas tropicais, mas tem "raça"!
15,46 Valores



Relativamente á vertente gastronómica, iniciámos o repasto com uma
Escabechada de codorniz c/maça caramelizada e cenoura algarvia ( Baixo ) feito a preceito pelo chefe Valter do ainda desconhecido Restaurante Aquárius do Hotel Leziria Parque em VILA FRANCA DE XIRA.
Como pratos principais tivemos, uns
Churros de farinheira, maçã e porco preto em marinada de carqueja ( Cima Direita ) e uma
Perdiz c/uvas, migas de grelos e salteado de figos burro ( Cima Esquerda ), que se revelaram uma carne que feitos a preceito na sua confecção e ligou muito bem com os vinhos.
Atenção estes pratos não estão na ementa do restaurante, pois segundo me disseram não existe mercado em Vila Franca para pratos deste tipo. Mas podem sempre pedir á Lidia Conde para elaborar uma ementa mais cuidada para uma ocasião especial.
Para terminar a noite um Kopke Vintage 2003 que acompanhou muito bem com os puros disponibilizados para o evento.
17 Valores
Assim terminou uma prova com grandes vinhos. Muitas surpresas que deixarão os enófilos mais apaixonados com muitas dúvidas e que animarão as conversas! Agora que venha a próxima.
P.S. Um obrigado a
todos os presentes, que sem eles não seria possivel elaborar este fabulosos jantar. Por último, volto a dar em nome do grupo os nossos sinceros agradecimentos a Lidia Conde, Luis e ao Cheff Valter do Hotel Leziria Parque em Vila Franca de Xira. Não fossem o seu empenho e a sua total disponibilidade e nada disto teria sido possível.